POR IVAN JANGOUX

E ai amigos do Baixo Natural!

No texto passado falei um pouco sobre a preparação antes de entrar em estúdio, falando sobre tópicos como regulagem do instrumento, arranjo da música, etc. Você está 100% preparado e chegou o dia de entrar no estúdio . O batera já gravou um groove sensacional, o som está lindo e você não pode deixar a banda na mão. Chegando no estúdio, mil opções de prés, gravar em linha, no amplificador, cru, com distorção, pedal, pedalaria, dedos, palheta.

É, amigo, são opções demais. O primeiro passo que sugiro sempre é conversar e confiar no seu técnico de áudio. Imagine que este é aquele seu amigo que você deixa sair com a sua namorada numa boa, aquele que não vai sacanear. Pois é ele que vai pegar suas idéias, ouvir, e colocar na fita - não deixa de ser mais um integrante da sua banda e que você precisa ter plena confiança nas decisões. Nenhum técnico de áudio é, pensa ou ouve igual. Meus clientes geralmente chegam tímidos e com pressa, então eu sempre procuro ir conversando para entendê-los. Quais suas influências? Que tipo de som você gosta? Converse, fale, explique!

"Ah, mas eu estou gravando no meu home studio, não tem técnico…". Nâo tem problema! Antes de gravar, tente planejar o que você quer. Não saia gravando na loucura, mil pistas, mil timbres. Defina o que você quer e busque isso! Se você não sabe chegar a um determinado resultado, busque na internet, acesse fóruns, leia e escute muito. Você chega lá.

Vamos ser bem sinceros: gravando 90% do tempo artistas independentes e com orçamentos limitados é difícil gastar muito tempo experimentando muita coisa, então geralmente eu procuro as opções mais práticas e que sei não vão me dar problemas lá na frente. SEMPRE captar o sinal do baixo cru, sem efeitos, sem pedal, pedalaria (um bom Direct Box pode separar o sinal permitindo assim que este seja gravado cru além do sinal com algum efeito). Esse sinal cru me dá mil possibilidades lá na frente: separar em várias pistas pra tratar diferentes regiões do som do baixo de formas diferentes, reamplificar o sinal em algum amplificador, mandar para um pedal de distorção, pedalarias, etc.. Mas ao meu ver, a maior importância de ter esse sinal limpo é ter os graves e subgraves limpos. Uma vez, na pressa de um cliente, aceitei gravar somente um sinal vindo da pedalaria dele, com muita distorção. Na hora da mix, não tinha um grave limpo pois a pedalaria distorcia todo o sinal e depois, não consegui uma boa definição nas frequências baixas. Vivendo e aprendendo.
 

(legend: Direct Box ´splitando´ (dividindo) o sinal, para ser enviado para dois lugares diferente. Esse é o que eu uso, Countryman 85) 

(Quem tem as novas pedalarias da Line6 pode contornar esse problema com aquele 'Dual Tone', fazendo um sinal limpo e um sinal distorcido sem os graves abaixo de 200hz. Fica show!)

Detalhe importante: quando voce trabalha com várias pistas de uma mesma execução (por exemplo: baixo DI, baixo microfonado em 3 canais), é necessário prestar atenção na relação de fase das pistas. Vou explicar de forma rápida: o som é uma onda e esta tem polaridade, como na figura:

 

(vários microfones em uma só caixa: necessidade de alinhar a fase dos sons)

Se o áudio não estiver com essas ondas alinhadas entre si em cada uma dessas fontes, algum cancelamento de frequências ocorrerá e o mesmo acontecerá se estiverem alinhadas porém com a polaridade oposta. É impossível alinhar tudo 100% pois equalizações, microfones, até cabos diferentes farão a onda tomar outra ´forma´, mas é importante sempre verificar a sonoridade, apertando o botão de inversão de fase do seu DAW, e caso não esteja bom, ir mexendo os microfones até achar a posição que o som está mais ´gordo´.

(Na figura a esquerda, a fase dos sons está perfeitamente alinhada, fazendo uma soma perfeita. Na da direita, a fase está alinhada porém invertida, causando cancelamento total de fase. Se estiver desalinhado, algum cancelamento acontecerá e o som ficará estranho)

Dica: experimente apertar este mesmo botão e vá mexendo os microfones até que o som fique miudinho. Aperte o botão de fase de novo e as diversas fontes de som vão estar otimamente alinhadas!
Dica 2: o áudio fora de fase geralmente tem um som que lembra chorus ou flagre. Experimente gravar seu baixo em alguns canais e vá mexendo os tracks pra você perceber o que é um audio fora de fase.

Enfim, voltando ao papo legal...Não costumo gravar em amplificadores por duas razões: poucos músicos tem amplificadores que valem a pena ser gravados e por motivos orçamentários. Timbrar leva um bom tempo, microfonar, escolher o microfone…Tudo isso pode levar uma tarde para fazer, dependendo do som que se queira. Mas sempre é válido, porque não ? Boas opções de microfone são o Neumann U87, o Sennheiser MD421 (meu preferido para baixo), mas até um bom e velho Sm57 casa bem. Posicionamento depende muito do gabinete e do som que você quer, mas um guia inicial é apontar o microfone diretamente para aquele ponto entre o cone e o 'dustcap' do falante. Mais pra borda, mais grave, mais pro centro mais agudo. Mais perto, mais grave, mais longe, menos graves e mais sala.

(MD421, o primeiro microfone que pego no meu armário ao gravar baixos)

É isso ai meus amigos! Espero mais uma vez tê-los ajudado no processo de gravação. Deixem suas perguntas e em breve escrevo mais um texto sobre gravação de contra-baixo. Um abraço!

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